A PAIXÃO POR MÓVEIS ANTIGOS
As histórias dos colecionadores são surpreendentes,
engraçadas e até mesmo casuais, como o próprio destino. As primeiras peças
adquiridas nunca se esquece. Com o passar do tempo, elas se tornam
objetos-chave das coleções. O colecionador de móveis e outros objetos antigos,
José Paiva, 39 anos, residente na Rua Cesário Alvim, 841, no bairro da Cidade
Velha, ganhou de presente de aniversário a primeira peça de sua coleção – uma
garrafa de vinho de Alcobaça, uma vila de Portugal – quando tinha 16 anos.
Segundo ele conta, na década de 70, em Belém, os leilões eram realmente
realizados nas residências de famílias tradicionais e as peças em sua maioria
de origem europeia, eram adquiridas durante as viagens que as pessoas faziam
aos países daquele continente.
Nos Palacetes Pinho e Bolonha, era comum a realização de
leilões, quando o martelo anunciava as grandes compras, conforme informa Paiva.
Alguns leiloeiros fizeram nome, nesse período, como é o caso do Raimundo Campos
e Benjamim Cardoso (ambos falecidos). Surgiram desse comércio as peças que,
juntamente com a garrafa de vinho de Paiva, foram compor sua coleção: enfeites
de parede em porcelana também originários de Alcobaça. Os primeiros móveis
foram adquiridos da loja de Renê e Agência Neves – outros pontos de
concentração dos colecionadores de época -, a última localizada bem em frente à
antiga Escola de Engenharia, na Rua Manoel Barata. José Paiva conta que era uma
portinha onde se encontrava um número considerável de móveis entulhados. As
antiguidades e antiquários, que hoje mantém um certo status, tinham naquele tempo a denominação de
“velharia”. Seus preços eram acessíveis e as coleções valiosas.
Peças raras
As pessoas não acreditavam na valorização de seus objetos
com o passar do tempo, explicou Paiva. Ele adquiriu móveis do século XVII, em
estilo colonial português, os chamados “tremidos e torcidos”, fabricados
manualmente “Não existiam tornos e as pessoas fabricavam com as próprias mãos
esses móveis”, informou. Na ante sala, ele conserva um conjunto de sala de
jantar completo, bem como na sala, uma cômoda que combina com a chapeleira e
uma mesinha, todos em madeira escura e mármore. No quarto de dormir o estilo se
repete na cama e nos dois guarda roupas. De início Paiva teve de enfrentar a
relutância da família que não queria em casa a chamada “velharia”. Com o tempo,
seus irmãos também tornaram-se colecionadores.
Apesar de Paiva não saber o número de peças que conserva
hoje em sua coleção, não hesita em dizer que são de grande valor. Nada porém se
compara à gratificação de quem consegue uma grande coleção, seja do que for.
Para José Paiva, é necessário o conhecimento de estilos e ainda da história das
civilizações que produziram as peças. Tudo isso sem dissociar os valores
estéticos, da harmonia. Os objetos (móveis, vasos, quadros e outros) devem
conforme Paiva, combinar com as demais peças de uma casa. É sempre necessário
evitar a compra de copiados. Paiva conta que adquiriu, no início de sua
coleção, telas não originais e três ventiladores de teto que não estavam
funcionando. Os objetos dificilmente podem ser devolvidos.
Um sonho
O maior sonho deste colecionador de móveis e objetos antigos
é montar uma loja de antiguidades e se transformar em leiloeiro. Ele disse que
o comércio de leilões em Belém hoje, está inflacionado e que os antiquários já
instalados criaram uma espécie de pool. “Nós encontramos de três a quatro peças
iguais nos leilões”, reclama. Paiva comprou algumas coleções em São Paulo e no
Rio de janeiro. “Na Praça XV (RJ) existe a feira dos pobres e dos ricos, mas as
peças, muitas vezes, se repetem nos dois lugares com preços diferentes”, conta.
Entre os colecionadores também existe uma espécie de
comércio, mas feito através de troca. Ao adquirir uma peça, é preciso estar
atento à cotação do dólar, pois no caso de revenda, o preço das antiguidades
são fixados nesta moeda, ensina José Paiva. “É um comércio no qual nunca se
perde. Quanto mais antigas as peças, maior valor elas possuem.
Peças vinham de Portugal a Belém
A vila de Alcobaça, em Portugal, pertence ao distrito de
Leiria. Nesse local há um antigo convento que pertenceu aos monges da Ordem
Ciste, habitantes de um célebre mosteiro por onde passa um riacho. Considerados
os colonizadores da região, os monges ali fabricavam peças de grande valor. As
cerâmicas eram feitas próximo ao riacho, em cujas águas, que passavam dentro da
propriedade dos monges, as peças de porcelana eram lavadas. Durante um período
de escavações, foram encontradas materiais arqueológicos como machados de pedra
e objetos de cobre e bronze, entre outros.
No local também existem grutas onde foram encontrados
mosaicos e outros objetos também de valor. No local destaca-se o comércio de
antiguidades: são móveis oloniais do período barroco português, do século XVII.
Foi nessa vila que muitas famílias que residiam em Belém conseguiram coleções
de valor inestimável.
Os móveis facbricados manualmente, com elementos decorativos
“tremidos e torcidos” (parecidos com os frisos de algumas casas existentes em
Belém que datam da colonização), são ali comercializados. As peças de José
Paiva, morador do bairro da Cidade Velha, são todas do estilo barroco
português.
OBS.: Nem todas as informações publicadas no jornal pelo jornalista refletiam a realidade, como a casa que era de meu pai, os móveis da sala de jantar que não eram meus, nos palacetes Pinho e Bolonha só houve 1 leilão em cada um dos prédios, os móveis não eram fabricados em Alcobaça e sim as cerâmicas e a garrafa não foi a primeira peça da coleção, tudo compreensível numa época onde a informação não tinha todas as facilidades de hoje.