quinta-feira, 9 de julho de 2015

ANTIGUIDADES EM UMA CASA DO BAIRRO DA CIDADE VELHA. Jornal dos Bairros, encarte de o Liberal/ 2/ago/1989




A PAIXÃO POR MÓVEIS ANTIGOS
As histórias dos colecionadores são surpreendentes, engraçadas e até mesmo casuais, como o próprio destino. As primeiras peças adquiridas nunca se esquece. Com o passar do tempo, elas se tornam objetos-chave das coleções. O colecionador de móveis e outros objetos antigos, José Paiva, 39 anos, residente na Rua Cesário Alvim, 841, no bairro da Cidade Velha, ganhou de presente de aniversário a primeira peça de sua coleção – uma garrafa de vinho de Alcobaça, uma vila de Portugal – quando tinha 16 anos. Segundo ele conta, na década de 70, em Belém, os leilões eram realmente realizados nas residências de famílias tradicionais e as peças em sua maioria de origem europeia, eram adquiridas durante as viagens que as pessoas faziam aos países daquele continente.
Nos Palacetes Pinho e Bolonha, era comum a realização de leilões, quando o martelo anunciava as grandes compras, conforme informa Paiva. Alguns leiloeiros fizeram nome, nesse período, como é o caso do Raimundo Campos e Benjamim Cardoso (ambos falecidos). Surgiram desse comércio as peças que, juntamente com a garrafa de vinho de Paiva, foram compor sua coleção: enfeites de parede em porcelana também originários de Alcobaça. Os primeiros móveis foram adquiridos da loja de Renê e Agência Neves – outros pontos de concentração dos colecionadores de época -, a última localizada bem em frente à antiga Escola de Engenharia, na Rua Manoel Barata. José Paiva conta que era uma portinha onde se encontrava um número considerável de móveis entulhados. As antiguidades e antiquários, que hoje mantém um certo status,  tinham naquele tempo a denominação de “velharia”. Seus preços eram acessíveis e as coleções valiosas.


Peças raras
As pessoas não acreditavam na valorização de seus objetos com o passar do tempo, explicou Paiva. Ele adquiriu móveis do século XVII, em estilo colonial português, os chamados “tremidos e torcidos”, fabricados manualmente “Não existiam tornos e as pessoas fabricavam com as próprias mãos esses móveis”, informou. Na ante sala, ele conserva um conjunto de sala de jantar completo, bem como na sala, uma cômoda que combina com a chapeleira e uma mesinha, todos em madeira escura e mármore. No quarto de dormir o estilo se repete na cama e nos dois guarda roupas. De início Paiva teve de enfrentar a relutância da família que não queria em casa a chamada “velharia”. Com o tempo, seus irmãos também tornaram-se colecionadores.
Apesar de Paiva não saber o número de peças que conserva hoje em sua coleção, não hesita em dizer que são de grande valor. Nada porém se compara à gratificação de quem consegue uma grande coleção, seja do que for. Para José Paiva, é necessário o conhecimento de estilos e ainda da história das civilizações que produziram as peças. Tudo isso sem dissociar os valores estéticos, da harmonia. Os objetos (móveis, vasos, quadros e outros) devem conforme Paiva, combinar com as demais peças de uma casa. É sempre necessário evitar a compra de copiados. Paiva conta que adquiriu, no início de sua coleção, telas não originais e três ventiladores de teto que não estavam funcionando. Os objetos dificilmente podem ser devolvidos.


Um sonho
O maior sonho deste colecionador de móveis e objetos antigos é montar uma loja de antiguidades e se transformar em leiloeiro. Ele disse que o comércio de leilões em Belém hoje, está inflacionado e que os antiquários já instalados criaram uma espécie de pool. “Nós encontramos de três a quatro peças iguais nos leilões”, reclama. Paiva comprou algumas coleções em São Paulo e no Rio de janeiro. “Na Praça XV (RJ) existe a feira dos pobres e dos ricos, mas as peças, muitas vezes, se repetem nos dois lugares com preços diferentes”, conta.
Entre os colecionadores também existe uma espécie de comércio, mas feito através de troca. Ao adquirir uma peça, é preciso estar atento à cotação do dólar, pois no caso de revenda, o preço das antiguidades são fixados nesta moeda, ensina José Paiva. “É um comércio no qual nunca se perde. Quanto mais antigas as peças, maior valor elas possuem.


Peças vinham de Portugal a Belém
 A vila de Alcobaça, em Portugal, pertence ao distrito de Leiria. Nesse local há um antigo convento que pertenceu aos monges da Ordem Ciste, habitantes de um célebre mosteiro por onde passa um riacho. Considerados os colonizadores da região, os monges ali fabricavam peças de grande valor. As cerâmicas eram feitas próximo ao riacho, em cujas águas, que passavam dentro da propriedade dos monges, as peças de porcelana eram lavadas. Durante um período de escavações, foram encontradas materiais arqueológicos como machados de pedra e objetos de cobre e bronze, entre outros.
No local também existem grutas onde foram encontrados mosaicos e outros objetos também de valor. No local destaca-se o comércio de antiguidades: são móveis oloniais do período barroco português, do século XVII. Foi nessa vila que muitas famílias que residiam em Belém conseguiram coleções de valor inestimável.
Os móveis facbricados manualmente, com elementos decorativos “tremidos e torcidos” (parecidos com os frisos de algumas casas existentes em Belém que datam da colonização), são ali comercializados. As peças de José Paiva, morador do bairro da Cidade Velha, são todas do estilo barroco português.

OBS.: Nem todas as informações publicadas no jornal pelo jornalista refletiam a realidade, como a casa que era de meu pai, os móveis da sala de jantar que não eram meus, nos palacetes Pinho e Bolonha só houve 1 leilão em cada um dos prédios, os móveis não eram fabricados em Alcobaça e sim as cerâmicas e a garrafa não foi a primeira peça da coleção, tudo compreensível numa época onde a informação não tinha todas as facilidades de hoje.



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